sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Lágrima Cadente

Tuas lágrimas evocam em mim,
Um desejo prático de ser louco e feliz.
Seu olhar clemente envolto de um sorriso cálido,
Me leva ao limiar...
À necessidade de refutar as crenças,
Que moveram corpos por milênio de luxúria.
Renasce o sentimento límpido,
Em um débil e culpado coração.
De meus lábios não mais escarro,
Palavras doces e notas primaveris.
Sem mais ânsia, ganância... distância.
Tua lágrima cadente,
Passou por minha constelação fria,
De vícios e melancolia,
E me trouxe ao perigo do calor,
De nos queimarmos tentando.
E se esfriarem as coisas,
A abstinência seria mortal.
Agora que me tiraste do escuro,
Me ensine as cores, os gostos...seu rosto.
Provaria...
Tu já és minha vida e provaria!
Atiraria em meu peito seco,
Se em meu último instante oco,
Meu último olhar estático,
E o último suspiro que sofreu...
Meus lábios,
Tocassem os seus.

Menino

Era uma vez um menino,
Que gostava de uma menina,
Que não gostava de ninguém.
O menino vivia pela menina,
Ela por ele não dava vintém.

A menina brincava, iludia a valer,
E o pobre menino esforçava-se a crer,
Que ela menina pudesse dele gostar,
Então para o sempre iriam brincar.


Mas um dia a tristeza tomou o menino,
Quando viu a menina a outro gostar,
Deprimido menino ficou comprimido,
Ao ver outro escolhido.

Sentou-se o menino, desatou a chorar,
Suas lágrimas jorraram um rio poluído,
E coitado menino não sabia nadar.

Esquecido


Sempre me lembro de te esquecer,
E mais uma vez estou pensando em você.
Quando me esqueço... me esqueço de mim.
E vou assim...
Levando, empurrando
Correndo, sofrendo...
Procurando algum lugar onde não haja você.
E não encontro!
E se não te encontro, me perco.
E vou assim...
Lembrando, procurando,
Correndo, esquecendo,
Levando, sofrendo,
Sozinho, esperando...
O dia não se fez.
Talvez um dia o talvez não exista,
E talvez eu não, resita.
E até lá...
Vou me lembrando de esquecer,
De me esquecer de me lembrar,
De que eu amo você.

26/04/99

Minha Floresta

Meu coração imerso,
Há uma floresta de sombras,
E de vida, há restos.
Não há passos,
Onde caminha o silêncio.
Um emaranhado de dúvidas,
Em um bosque de gestos.
A distância é só dor.
O horizonte, vapor.
Percorro um atalho efêmero,
E na noite, sedento,
A um lírico lago me embrenho.
Suas pequenas ondas me envolvem,
Meu desejo e meu medo,
Me impedem de pronto,
A saciar minha sede
E me vejo de encontro,
A ser fisgado em rede,
Pela beleza do lago.
E me encontro ali,
Ali no seco e ali molhado,
E sou reflexo, a lua ao lado.
E sou meu medo, apaixonado.
Preciso nadar,
Mas se a água for fria,
Perco meu ar.
Se mergulho, profundo,
Encontro uma pedra e adeus, meu mundo.
Mas só tenho esse lago,
Minha carência é tão grande,
Que mergulho assustado,
Para o abraço do lago.
E me perco em mim mesmo,
E a floresta,
Sou eu.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Eu, você e os anjos.

Eu me procuro porque estou fora de mim. Já me sinto em você. Nos seus gestos, nos gostos, sou um brinquedo dos seus desejos e um filho da tua vontade. Sou a palavra que você quer ouvir, o sorriso que você espera e o olhar que percebe você.
Sou o objeto da sua criação, sou quem quiseres que eu seja. Sou o gesto que você sabe mas não vê, o passo atrás de ti. O peito atrás de ti e o suspiro que você pensa ser seu. Sou sua sombra que você brinca que não existe e os segredos que você um dia quis contar. Me vejo ao seu lado, ao seu oposto, me vejo frente ao seu posto, invisível acaricio seu rosto e estou ao mesmo tempo em cima e embaixo.
Não existo. Não existo. Mas você existe porque eu posso ver? Você existe porque posso te sentir, te querer? Por que você existe e sou eu? Por que não me entrega de volta? Corro com medo de correr demais. Penso no limite e temo correr correr correr e passar da linha sem volta, escapar tanto de mim e perder você.
Percebo cada infinito que você me deixa ver e percebo o quanto infinito você deve ser. Como queria ser infinito com você! Mergulhar no mar dos seus beijos e afogar meus olhos nos espelhos de sua alma. Queria tanto a calma de também ser você. De ter um pouco suas qualidades e sair um pouco do tédio de ter sempre os mesmos defeitos. E rir contigo as mesmas vitórias e superar contigo as dolorosas derrotas. Subir cada degrau da escada com você.
Mas não existo. Os anjos existem. São quase tão eternos quanto Deus e se riem de seres como eu que sentem a presunção de existir por um irrisório tempo finito. Os sacanas existem e são sempre belos e altos, puros e chatos, sim, são cansativos ás vezes, pois são sempre os mesmos desde que o universo se fez ver pela primeira vez.
Atendem pelo mesmo nome e fazem as mesmas tarefas de sempre. Seguem fielmente as leis celestes e protegem sempre os tipos de pessoas que são destinados a proteger. Não reclamam, não ferem, não são feridos, não matam nem morrem, sofrem de existir talvez até mais que eu, que vivo às vezes, alguns tipos de vida, em diferentes lugares.
Vivo quando posso, quando Deus, os astros, as forças da vida, os anjos e demônios me permitem viver. Vivo uns sonhos que tenho quando estou morto e tento aprender quando acordo o quanto do sonho se pode viver.
Mas os anjos... Tenho pena dos anjos, que são rotulados por todos e significam, agem e atendem pelo mesmo nome por toda a eternidade e são deja vus da própria existência sempiterna. Vagam no tempo sem rumo ao mesmo tempo do principio ao fim e conhecem os desfechos das histórias que ainda não começaram.
Ah! Acho que sei o sonho dos anjos, devem querer que um dia Deus entenda a insensibilidade dos primeiros seres os deixe morrer um pouquinho... e viver um pouquinho... sempre de cada vez. Será que o fez?

04/09/00

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O Homem e a Montanha


Um dia, ontem, hoje e amanhã. Um homem percorria perdido o seu caminho para lugar nenhum. Ia lento, muito lentamente, pois carregava consigo uma bagagem enorme. Esse homem era muito rico, ou pelo menos, ele próprio e a maioria de seus amigos e conhecidos o achavam.
O sol brilhava fortemente, mas ele só via a sombra que suas malas faziam no chão, e o chão era o único lugar que via, pois o peso era muito e o focava a isso.
O suor cobria sua pele como se sua pele fosse água e suas pernas se tornavam mais e mais pesadas. Todos os que o viam o achavam triste, pela sua expressão cansada e pelas tantas palavras feias que saiam vez ou outra de sua boca. Mas ele se considerava feliz por ter tudo o que tinha para carregar.
Quando pensava que não estava bem aos olhos dos outros viajantes, tirava de uma de suas sete malas, um espelho, um pente e seus cremes anti-feiúra, e logo se sentia feliz e bonito, mas só sorria uma vez para o espelho. Logo depois se sentia triste novamente e abria outra mala, de onde tirava algum litro de alguma coisa e algum fumo.
Em pouco tempo o homem se achava feliz novamente e partia em sua jornada rumo ao nada...
Assim que se via só, que se dava conta de que estava só, abria outra mala e tirava dela uma revista de fofocas ou fotos das pessoas que um dia pensou amar. Sorria para o passado e logo guardava tudo e jogava nas costas, junto às outras.
Algumas vezes pelo caminho, quando uma pedra o fazia tropeçar e cair, ou quando esta parecia grande demais, o homem abria outra mala e dela tirava seus diplomas, medalhas e alguns troféus, ele os admirava e estas coisas lhe animavam o suficiente para seguir adiante.
E o homem caminhava e ia com a certeza de que ao chegar onde estava indo, ficaria ainda mais rico do que era, e algumas vezes para reforçar essa certeza o homem abria uma mala e dela tirava alguns recortes de mansões, castelos, carros, motos e tudo o que pensava que gostaria de ter e fazer. Isso o encorajava e o homem seguia seu rumo quando, algumas vezes, um outro homem, que estava a muito na sua frente, voltava e lhe perguntava se ele iria subir a montanha. Ele se enfurecia com aquele homem que lhe falava sobre coisas sem sentido, pois não via montanha alguma, somente o chão e as pedras e algo o incomodava quando via aquele homem, que parecia feliz e não carregava nada, era pobre e louco, ele pensava.
Aquele homem o lembrava algo e assim que o homem sumia na sua frente ele abria uma de suas malas e tirava fotos de todas as pessoas que o irritavam, do homem que se casou com seu amor de adolescência, do outro que roubou seu emprego, daquele que comprou a casa dos seus sonhos e o carro que mais queria. Sentia raiva, muita raiva e a raiva o deixava feliz.
O homem seguia cada vez mais cansado e quando a noite chegava ele se apertava com uma de suas malas, mas nunca a abria, a apertava forte e rezava para não precisar abri-la. O dia nascia e o homem seguia.
Outro dia, depois de todas as vidas, uma montanha apareceu na sua frente, era enorme e só parecia acabar no céu, mas ele não via, pois só via o pé da montanha. Pensou em dar a volta mas não via por onde e já estava cansado demais para voltar ou para contornar, portanto decidiu seguir adiante e começou a escalada.
O esforço era muito e a bagagem estava toneladas mais pesada, pois nunca em sua jornada ele deixava de encher as malas. Após alguns metros e algumas quedas ele se sentou, abriu uma mala, a do espelho, deu uma boa olhada em si mesmo e se viu acabado, estava cheio de marcas na testa, envolta da boca, os cabelos grisalhos e sua aparência era triste.
Pegou o espelho revoltado, jogou dentro da mala e depois jogou a mala, que se desfez na queda. Respirou fundo e subiu mais um pouco, se sentindo mais leve. Porém a montanha era muito alta e logo suas forças se acabaram. Sentou-se encostado numa pedra e abriu outra mala, nela se encontravam as bebidas e os cigarros e o homem bebeu e fumou, bêbado tentou subir mais um pouco e caiu, seu pulmão parecia estourar e ele desmaiou.
Ao acordar percebeu que era inútil carregar aquela mala e se livrou dela. Esboçou um sorriso triste e meio mancando, porém mais leve, tornou a subir e quando mais subia mais pensava em si mesmo, onde estava e aonde ia, pensou e parou, pegou a mala com as revistas e as fotos, abriu-a, deu uma boa olhada e sorriu ao vê-las todas voando livremente para o nada. Quase em pé, podia distinguir o que poderia ser um raio de luz, mas não podia ter certeza, por isso decidiu subir mais.
Enquanto subia, pensava agora no que ganharia ao chegar lá em cima e descobriu que era mais que um diploma, medalha ou troféu, era sua própria vida e nesse instante decidiu jogar fora essa mala também.
E o homem subia cada vez mais leve e feliz por estar mais leve e subindo, logo estaria n topo e estaria salvo. Quantas pessoas conseguiram salvar a si mesmas? Ele pensava, e se sentia feliz por saber que poucos conseguiram subir aquela montanha e que talvez nenhum daqueles homens a quem invejava odiosamente pudessem subir até onde ele subira e jogou fora a mala com seus nomes, fotos e listas de bens e junto com a mala toda lembrança de todos os que o faziam mal e subiu cada vez mais rápido e cada vez mais livre e quando pensava que estava quase chegando, eis que chegou a noite.
Ele apertou sua mala consigo e subiu mais um pouco. Sentiu algo estranho e parou, soltou sua única mala no chão e a abriu, nela viu seus remédios para a cabeça, coração, stress e tudo, viu suas facas e seu revólver e seu spray de pimenta. Ficou olhando um pouco para o vale escuro e depois para as estrelas... há muito tempo não via as estrelas e se lembrou do pobre louco que o vinha sempre a chamar a subir a montanha, e pensou que aquele homem não era pobre nem louco, ele era rico, pensou, pois era sábio e sabia que para se chegar ao cume da montanha mais alta não se precisa de bagagem nenhuma, tudo o que se precisa é de si mesmo, da montanha e de acreditar que se vai conseguir. Depois que pensou isto, pegou a mala e ao jogá-la no vale escuro disse a si mesmo em voz alta:
- Não tenho mais medo, não tenho mais nada e mesmo que amanhã eu não chegue ao topo desta montanha, continuarei subindo, leve e feliz, pois a felicidade não está em chegar ao topo e sim em estar leve e subindo, obrigado rico e sábio homem, que me ensinou a andar nu.
Disse isto e deitou-se cansado, porém leve e feliz, com um sorriso sincero nos lábios e nada nas mãos.
Ao amanhecer, acordou com o primeiro raio de Sol e quando olhou para cima, estando totalmente em pé e com os braços abertos, abriu um enorme sorriso... pois tudo o que via agora... era o Sol.

05/02/02

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Drummosaico


Mundo, mundo, vasto mundo!
Mundo, mundo, vaso imundo!

No meio do caminho tinha uma pedra
E agora José?
Tinha uma pedra no meio do caminho.
E agora José?

Chega um tempo em que não se diz mais: Meu Deus!
E agora José?
Teus ombros suportam o mundo.
E ele não pesa mais que a mão de uma criança.

Entre a vida e o fogo,meu coração cresce dez metros e explode.
A festa acabou,
O povo sumiu...
Só agora descubro,
Como é triste ignorar certas coisas.

Certas palavras não podem ser ditasem qualquer lugar e hora qualquer.
Sempre dentro de mim meu inimigo.E sempre no meu sempre a mesma ausência.

Tenho apenas duas mãose o sentimento do mundo,
Se sabias que eu não era Deus...

Há no país uma legenda,que ladrão se mata com tiro.
Mas você não morre,você é duro, José!

Raimundo morreu de desastre...
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandesque não tinha entrado na história.
E agora, José?
Êta, vida besta, meu Deus!

27/10/07
Existe uma frase que nunca foi dita por Drummond, encontre-a!

sábado, 24 de novembro de 2007

Faz um tempo e meio

Faz um tempo e meio...
E mais dois tempos...
Que não tenho tempo de pensar no tempo.
Tempo é dinheiro...
E sou pobre.
Não tenho tempo pra nada
Nem a eternidade da infância...
Já foi o tempo...
E há tempo pra tudo,
Até pra se pensar no tempo.
O tempo tudo suaviza
Ou tudo põe em relevo.
O tempo tudo escraviza.
Tudo está preso no tempo
Até o espaço é filho do tempo.
Falando em tempo,
Estou sem tempo para continuar
Falando em tempo...
O tempo não está bom.
Acho que chove... temporal.

17/09/2007


Dédalo e Ícaro


Ícaro


Ícaro era filho de Dédalo, um dos homens mais criativos e habilidosos de Atenas. Um dos maiores feitos de Dédalo foi o labirinto do palácio do rei Minos de Creta, para aprisionar o Minotauro. Por ter ajudado Ariadne, a filha de Minos a fugir com Teseu, Dédalo provocou a ira do rei que, como punição, ordenou que Dédalo e seu filho fossem jogados no labirinto.
Dédalo sabia que sua prisão era intransponível, e que Minos controlava mar e terra, sendo impossível escapar por estes meios. "Minos controla a terra e o mar", teria dito Dédalo, "mas não as regiões do ar. Tentarei este meio".
Dédalo projetou asas, juntando penas de aves de vários tamanhos, amarrando-as com fios e fixando-as com cera, para que não se descolassem. Foi moldando com as mãos e com ajuda de Ícaro, de forma que as asas se tornassem perfeitas como as das aves. Estando o trabalho pronto, o artista, agitando suas asas, se viu suspenso no ar. Equipou seu filho e o ensinou a voar. Então, antes do vôo final, advertiu seu filho de que deveriam voar a uma altura média, nem tão próximo ao Sol, para que o calor não derretesse a cera que colava as penas, nem tão baixo, para que o mar não pudesse molhá-las. Dédalo levantou vôo e foi seguido por Ícaro.
Eles primeiramente se sentiram como deuses que haviam dominado o ar. Passaram por Samos, Delos e Lebinto.
Ícaro deslumbrou-se com a bela imagem do Sol e, sentindo-se atraído, voou em sua direção esquecendo-se das orientações de seu pai, talvez inebriado pela sensação de liberdade e poder. A cera de suas asas começou rapidamente a derreter e logo caiu no mar. Quando Dédalo notou que seu filho não o acompanhava mais, gritou: "Ícaro, Ícaro, onde você está?". Logo depois, viu as penas das asas de Ícaro flutuando no mar. Lamentando suas próprias habilidades, enterrou o corpo numa ilha e chamou-a de Icaria em memória a seu filho. Chegou seguro à Sicília, onde construiu um templo a Apolo, deixando suas asas como oferenda.


Eu sei o que você quer

Tudo não passa de ilusão
Para quem acredita só na razão.
Tudo não passa de ilusão
Para quem não ouve o coração.
O mundo é uma festa a fantasia
Onde cada um é o personagem que quiser.
A vida é um curso
Onde a matéria é o amor
E todos são professores e alunos
Existe mágica nas palavras
E o poder de destruir e criar
Está a disposição de todos
Todos podem viver nos sonhos
E sonhar na vida
E a morte é a irmã mais velha do sono.
A natureza é a única verdade
E todos os segredos se encontram nela,
Todas as chaves e todas as portas.
A violência é um vírus da alma,
Que contamina a essência
E neutraliza a capacidade criativa e comunicativa do ser humano.
Deus é a presença constante em tudo,
Nos átomos e nas ondas,
E a vibração primeira que deu origem
A todas as outras velocidades de vibração.
Todos correm pela vida a procura de algo.
Que ao encontrarem descobrem que sempre possuíram,
Sua própria alma.
Eu sei o que você quer, você quer amor, você quer Deus.
E você quer saber quem você realmente é.
Se você quiser isso,
Pode se considerar feliz,
Pois você é amor, e Deus é o Amor maior.

Toda vez que respiro

Você é a última coisa em que eu penso antes de dormir
E você é a mulher dos meus sonhos.
Então você é a primeira coisa em que eu penso ao acordar
E durante o dia penso em você sempre que respiro.
E sempre que fecho os olhos vejo você
Te digo o dia inteiro que te amo,
E a noite sozinho te vejo e espero, não sei porque.
Talvez seja aquele seu olhar que me iniba
Ou talvez seja aquele sorriso
Talvez seja só eu, e meu medo,
De você não me entender, não me querer,
O medo de te dizer a verdade e você não acreditar
O medo de me entregar por inteiro e você me jogar fora.
O medo de estar em suas mãos e você me esmagar;
Ou talvez seja só essa confusão.
Essa coisa sem sentido de ter medo
E ter amor ao mesmo tempo
Ou essa guerra entre razão e coração.
Mas nada importa agora, o que importa,
É que você é a última coisa em que eu penso antes de dormir,
E a primeira, quando acordo, e durante o dia
Toda vez que respiro, você!

A tinta das palavras




Lembro das histórias que nunca te contei e rio
Das risadas que nunca demos e choro
Sinto o meu silêncio quando ouço o teu olhar
Gosto de pensar que sempre sei o que é preciso
E que sempre sei a coisa certa a falar
Mas sua beleza tudo cala e só entendo o seu sorriso
Queria poder voar contigo pelo espaço e pelo tempo
Sobre a vida e de cima ver os instantes
Eternos e fixos no solo da história dos nossos sentimentos
Éticos e sinceros, fatos dos pós e dos antes
Lembro das histórias que eu não guardei e rezo
Para que tudo deixe de ser só fotos amarelas de memória
Para que morra toda dor da falta que desprezo
Para que o amor seja a tinta das palavras,
De nossa história de amor.

Mandala


Mandalas são portas, são caminhos da natureza a uma outra dimensão...

FESTA DOS FILÓSOFOS


Estive outra noite numa festa onde os convidados eram todos filósofos...
Há dias me sentia estranho, com uma sensação quente e fria no peito, e não sabia exatamente o que sentia. Decidi perguntar aos filósofos o que era o que sentia...
Tales me disse que era coisa da Natureza, mas disso já desconfiava e fui a Sócrates perguntar, mas ele disse que só sabia que nada sabia e que eu só deveria sentir. Platão completou explicando que o que eu sentia já existia antes de eu sentir... lá no mundo das idéias...
Achei abstrato demais e perguntei a Pitágoras, que calculava a eternidade naquele instante, se o que sentia era certo. No que ele me olhou e sorriu suavemente dizendo: Tão certo quanto um meio e um meio são um e um e um são dois!
Olhei para Aristóteles que me olhava com expressão poética e num gesto tragicômico me disse: Lógico! Procurei Demócrito e o encontrei jogando xadrez celeste com Heráclito e enquanto fazia um movimento lhe dizia em tom de brisa: Meu irmão... para que algo exista é preciso próton, nêutron e elétron, xeque! – O jogo ficou ternamente tenso e achei melhor não interromper.
Encontrei Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, bebendo água da vida na fonte e perguntei novamente o que era o que sentia, no qual o primeiro respondeu: Deus! E o segundo completou: A lógica de Deus é Luz, e a luz lógica do coração é o Amor!
Com aquelas palavras caminhei maravilhado pelo salão sem fim e distraidamente esbarrei em Descartes, derrubando-lhe a maçã que estava prestes a morder, indignado, me deu um tapinha nas costas e me deu Razão. Caminhando então cheio de razão, encontrei Hobbes e ele me perguntpu como andavam as coisas, como ia a minha busca, essas coisas... e eu disse que estava amando, ele me disse que isso já existia antes do Contrato Civil e que era Direito Natural.
Bem, tudo estava do meu lado e o vento soprava a meu favor, eu não tinha dúvidas quando encontrei Hume e Locke fazendo algumas experiências com as flores astrais... convidei-os para meu futuro matrimônio, porém eles se entreolharam e depois me encarando com um sorriso irônico nos lábios me disseram que o que eu estava sentindo era apenas a soma de várias percepções, que era apenas coisa dos meus olhos, nariz, boca, tato e audição e não do meu coração, e que provavelmente se não existisse nada disso eu não sentiria nada.
Fiquei um pouco confuso e perambulei perdido pelo Caminho...
Encontrei Hegel e felizmente ele conseguiu me acalmar um pouco dizendo que era apenas uma Tese, que estava pedindo desesperadamente por uma Antítese e que provavelmente isso ia dar em Síntese. Suspirei aliviado e Marx disse que capital e que eu investisse tudo...
Freud explicou que o conflito havia surgido entre o Ego e o Superego por causa do Id, Jung riu e disse que isso era sonho...
Cansado de tanta informação e confusão, sentei-me para descansar ao lado de Sartre, num café em frente o Rio da Água da Vida, ele a bebia numa xícara fosforescente e contemplando a paisagem sem fim escrevia o que parecia ser um poema.
Contei-lhe todo o meu dilema e ele parecia ouvir sem ouvir... ao fim da história me perguntava: O que é Amor? O que é Sentir?...
No que então ele me olhou sorrindo sábia e humildemente e me estendeu um pequeno papel brilhante que continha o que parecia um oito deitado em chamas, então ele disse pausa...da...mente...
“Sentir... Amor...É...Existir...”
Então eu acordei!

11/09/02

Criação.



No primeiro instante
Do primeiro dia
Deus teve fé
De que poderia fazer
Todos os universos
E eis que os chamou:
Criação!


16/09/04

ESCREVI!




Penso em escrever...
Penso constantemente
E escrevo o tempo todo.
Escrevo em tudo o que faço
É história!
Tudo é invenção
Tudo composição
É toda uma orquestra eterna
Em perfeita harmonia.
Uma obra literária mágica
Sem começo e sem fim
E o espaço é a eternidade
Onde todos os campos
Semânticos são possíveis
Estamos todos sujeitos
E estamos entre nós.
Somos substantivos compostos
E protagonistas invisíveis
Do livro dos verbos
Da luz foz.
E estamos todos na oração.
Penso em escrever,
Mas na verdade escrevo.
Escrevo que eu estou pensando
Em escrever.
Escrevo que eu estou vivo
E que estou pensando em escrever
Que eu estou pensando em escrever.
Escrevo atos faço cenas e romances,
Escrevo em tudo! Em cada respirar...
Escrevo que estou respirando
Vivo escrevendo.
Escrevendo que vou vivendo,
Escrevendo que escrevi...
Escrevi!

Premiado Sesc 2004