quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Eu, você e os anjos.

Eu me procuro porque estou fora de mim. Já me sinto em você. Nos seus gestos, nos gostos, sou um brinquedo dos seus desejos e um filho da tua vontade. Sou a palavra que você quer ouvir, o sorriso que você espera e o olhar que percebe você.
Sou o objeto da sua criação, sou quem quiseres que eu seja. Sou o gesto que você sabe mas não vê, o passo atrás de ti. O peito atrás de ti e o suspiro que você pensa ser seu. Sou sua sombra que você brinca que não existe e os segredos que você um dia quis contar. Me vejo ao seu lado, ao seu oposto, me vejo frente ao seu posto, invisível acaricio seu rosto e estou ao mesmo tempo em cima e embaixo.
Não existo. Não existo. Mas você existe porque eu posso ver? Você existe porque posso te sentir, te querer? Por que você existe e sou eu? Por que não me entrega de volta? Corro com medo de correr demais. Penso no limite e temo correr correr correr e passar da linha sem volta, escapar tanto de mim e perder você.
Percebo cada infinito que você me deixa ver e percebo o quanto infinito você deve ser. Como queria ser infinito com você! Mergulhar no mar dos seus beijos e afogar meus olhos nos espelhos de sua alma. Queria tanto a calma de também ser você. De ter um pouco suas qualidades e sair um pouco do tédio de ter sempre os mesmos defeitos. E rir contigo as mesmas vitórias e superar contigo as dolorosas derrotas. Subir cada degrau da escada com você.
Mas não existo. Os anjos existem. São quase tão eternos quanto Deus e se riem de seres como eu que sentem a presunção de existir por um irrisório tempo finito. Os sacanas existem e são sempre belos e altos, puros e chatos, sim, são cansativos ás vezes, pois são sempre os mesmos desde que o universo se fez ver pela primeira vez.
Atendem pelo mesmo nome e fazem as mesmas tarefas de sempre. Seguem fielmente as leis celestes e protegem sempre os tipos de pessoas que são destinados a proteger. Não reclamam, não ferem, não são feridos, não matam nem morrem, sofrem de existir talvez até mais que eu, que vivo às vezes, alguns tipos de vida, em diferentes lugares.
Vivo quando posso, quando Deus, os astros, as forças da vida, os anjos e demônios me permitem viver. Vivo uns sonhos que tenho quando estou morto e tento aprender quando acordo o quanto do sonho se pode viver.
Mas os anjos... Tenho pena dos anjos, que são rotulados por todos e significam, agem e atendem pelo mesmo nome por toda a eternidade e são deja vus da própria existência sempiterna. Vagam no tempo sem rumo ao mesmo tempo do principio ao fim e conhecem os desfechos das histórias que ainda não começaram.
Ah! Acho que sei o sonho dos anjos, devem querer que um dia Deus entenda a insensibilidade dos primeiros seres os deixe morrer um pouquinho... e viver um pouquinho... sempre de cada vez. Será que o fez?

04/09/00

2 comentários:

Anônimo disse...

Tá tudo muito bom, mas o endereço do meu blog não é palhastro, mas sim cinepalhastro.

Massa!

flw


ah! E sobre concursos de poesias, vc promoverá alguma coisa assim?

Peter Cabral disse...

É uma ótima idéia! ainda não tinha pensado nisso! vc me ajuda depois a fazer algo legal! vo corrigir o endereço lah. foi mal..rs. abs